quinta-feira, 31 de maio de 2012

MEDO LÍQUIDO

Na atualidade existem medos sem nomes específicos que tomam conta dos indivíduos, este ultimo livro que li de Zygmunt Bauman fala de um sentimento que pode vazar de qualquer canto ou fresta de nossa vida, casa ou planeta. Mas como pode ser explicado esse medo que transborda inesperadamente e nos faz fugir do olhar dos seres humanos, assustados com o diferente? Por exemplo,  ainda que o outro seja uma criança de rua nos chamando de “tio” ou de “tia” do lado de fora do vidro do carro, ainda assim representa é um perigo. É comum nas grandes cidades vermos carros blindados, grades, portões e cadeados, nos aeroportos mundo a fora não é mais estranho olhares desconfiados de agentes de segurança alertados contra o terrorismo. Será que tem algo nesse medo que sentimos nos dias de hoje? Pelo que li no libro de Bauman existe sim.  Através da analise das ansiedades  atuais: morte, mal, situações inexplicáveis ele diz que esse sentimento pode surgir de qualquer “fresta” das nossas vidas.  Mais uma vez é um autor que leio e aborda sobre as relações da sociedade que “derrama, escorre” por nossa mente e corpo, desejos e tempos, não importando classe social, gênero  ou idade  onde nenhum de nós é poupado de assombrações  com ou sem lógica, individuais ou coletivas. Esse medo que surge de repente, em quartos, cozinhas, trabalho, metrô; Ou então ser acordado por um desastre natural ou simplesmente sofrer pelos atos das pessoas ao seu redor.  Bauman nomeia ainda uma “terceira zona”  onde entram as catástrofes econômicas e naturais, por exemplo: barris de petróleo que secam, bolsa de valores que despencam e empresas que afundam levando consigo centenas de empregos. Ele chama isso de universo de colapso. Para viver nesse universo em constante mudanças das quais acabam oferecendo muitos motivos para preocupações é necessário desenvolver estratégias para lidar com tudo isso!
“ Afinal, viver num mundo líquido-moderno conhecido por admitir apenas uma certeza- a de que amanhã não pode ser, não deve ser, não será como hoje- significa ensaiar diariamente um desaparecimento, sumiço, extinção e morte...” 
Bauman faz uma consideração curiosa, de que na sociedade atual até mesmo a morte pode ser temporária até segunda ordem. Pessoas escapam do sofrimento, ainda que a dor seja um processo de crescimento e amadurecimento, elas cessam dores o tempo inteiro. Essa “liquidez” do mundo moderno faz com que seja intolerável uma frustração causada pelo outro. As ameaças são assustadoras, ok. Porém, ele acredita que podemos buscar motivos racionais tanto para justificar a nossa falta de iniciativa durante os desafio diários, quanto para arriscar em si novas possibilidades criativas que não nos deixe fugir de tudo que nos encomoda. Enfim, Bauman acredita que devemos nos aproximar do que tememos e não fugir, de forma que se nos aproximamos do que nos causa medo, nos tranquilizamos de ver de perto a causa e conseguir lhe dar um nome e uma forma.
  “Medo é o nome que damos a nossa incerteza: nossa ignorância da ameaça e do que deve ser feito."
 Esta é apenas minha análise da minha leitura, vale a pena ler! 
(Zygmunt Bauman. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Teatro da Felicidade



    Hoje vivemos sombreados por uma Cultura Narcísica ou do Espetáculo, as pessoas não conseguem sustentar uma relação com o outro e a monogamia dá seus primeiros sinais de extinção. Pessoas voltadas para dentro de si, apenas para dentro de si.  Alguns autores que li falam em Época Hipermoderna ou Supermoderna, que é fruto do desenvolvimento do capitalismo multinacional e dos fenômenos da globalização. A principal característica dos tempos atuais não é a falta, é sim o excesso, que deforma o todo.  Na falta de experiências reais e consistentes, não superficiais como as que se vê por aí, as pessoas tem a si mesmo como objeto de amor e de sustentação da sua identidade. No estilo "Amar bastante a mim mesmo de modo a não precisar que ninguém me faça feliz”, vivemos em um mundo onde o encontro amoroso fracassa antes mesmo de acontecer porque as relações intersubjetivas estão em ruínas.
    Durante o cotidiano das pessoas, elas se juntam para trabalhar, para estudar, para ganhar dinheiro, para se divertir, para "ficar". Porém, nem sempre o estar junto fisicamente vai realizar um encontro. Quando pessoas em grupo, em um espaço público, um restaurante ou uma festa falam demais, gesticulam, ocupam todo o espaço possível com uma presença ruidosa. Se prestarmos atenção, veremos que a maioria não escuta umas às outras, exceto o mínimo necessário para abrir espaço para a sua própria fala. Falta interesse verdadeiro para o universo do outro. Falta disposição interna para escutar, refletir, construir junto um pensamento compartilhado, produto de um encontro. A vida é um cenário, onde é cada vez mais freqüente o comportamento teatral, mais precisamente, televisivo. 
As pessoas agem como se fossem personagens de uma história que está sendo filmada e deixam exibir, na tela, a satisfação por aparecerem na TV, mesmo que em situações constrangedoras ou dolorosas.
    As identidades se sustentam mais pelas imagens do que pela reflexão, mais pelo consumo que pelo cultivo. O outro faz papel de espectador ou quem sabe, coadjuvante, A linha do "você é o que você consome". O amor e o sexo não escaparam ao princípio consumista do mais querer, que produz o rápido esgotamento do que se tem. Acumulam-se casos e histórias como se acumulam coisas. E deles se descarta do mesmo jeito. Nessa lógica, é estimulado o exercício do sexo (seguro e em grande quantidade), com muita diversificação não só de parceiros, como de técnicas, acessórios e cenários. O encasulamento é um recurso de proteção contra o incômodo, a decepção, e o custo de uma relação, que requer o exercício da tolerância, da reflexão, do diálogo, da autocrítica.
    Por fim, se relacionar dá trabalho e o ganho pode parecer pouco – especialmente quando se vive em um mundo como o atual, que cobra a busca por um fictício estado prazeroso ininterrupto. O ganho, que não está previsto nessa conta que soma êxtases, é aquele que não se percebe de imediato. As pessoas passam a vida se fazendo e refazendo nas relações com o mundo. A falta de relações autênticas impossibilita experiências de vida que são imprescindíveis para a felicidade. Ou seja, não se basta sozinho, mesmo quando acreditar que é melhor não gostar de ninguém para evitar sofrimento. Assim, há quem prefira se defender do outro ao invés de arriscar, acaba ficando no vazio de si. Cabe a pessoa escolher com qual dos males pretende levar sua existência, contudo a cultura atual tem levado há uma única opções a milhares de adeptos...