quarta-feira, 4 de abril de 2012

DIÁRIO DE CAMPO DE BRUNA CASSALES
TEMA: FUMO

                                       

A inspiração...

   Decidi iniciar meu diário de campo com um tema cuja incidência presencio diariamente em quase todos os lugares e com os mais diferentes tipos de pessoas. O meu tema é o fumo. Decidi pensar em porque, aqui na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do sul, excepcionalmente o prédio 11 dos cursos de Direito e Psicologia, tem um grande índice de fumantes a partir das 19 horas da noite em diante. Sou aluna da tarde e sempre observei que todos os dias enquanto vou saindo do meu turno de aula vem chegando, em paralelo, os alunos da noite. Fui pensando no motivo para as pessoas fumarem hoje em dia? Antigamente era bonito, chique e charmoso fumar, até mesmo os que não gostavam se rendiam somente para estarem equiparados aos mocinhos da novela, os quais fumavam durante as novelas. Mas hoje penso que o fumo é uma questão de prazer imediato de uma população ansiosa e estressada sem tempo para momentos de lazer ou realmente sem ter fontes de prazer e bem-estar alternativos nas suas vidas, porém ressalto que isso não é uma regra, uma vez que os fatores genéticos e ambientais também são variáveis a serem consideradas com base no que sempre aprendi que o ser humano é um ser biopsicossocial.


 Uma questão de cada um...

  É fato que o fumante leva um tempo para se acostumar com os efeitos da nicotina, no início com aqueles enjôos iniciais, aí vêm as tonturas e aquela garganta seca. O mesmo acontece com o cheiro da fumaça do cigarro! Depois de drogadicto, o fumante já tem dificuldade de sentir tudo isso e, não o estranhando mais, se identifica com ele (o cigarro) e não o abandona mais. Porém, isso não deveria acontecer com as pessoas que rodeiam os fumantes, os chamados fumantes passivos. Não vou me enganar só por isso porque na verdade a fumaça do cigarro fede. Que o dependente em nicotina não ache isto tudo bem, mas que fede, fede... Certo dia eu e mais uma colega estávamos em frente ao Prédio 11, naquele mesmo horário o qual citei acima (por volta das 19h), de repente um cidadão se sentou ao nosso lado, acendeu o seu cigarro, tragou IN-FI-NI-TA-MEN-TE e simplesmente sem olhar se haviam pessoas ao seu lado soltou uma enorme e fedorenta fumaça de cigarro no nosso rosto. No momento fiquei indignada e tomada pela minha dose de raiva e meu alter-ego foi tomado pelo senso-comum e pensei na mesma hora – Mas o que ele está pensando? Que pessoa sem educação! No entanto, passou-se um tempo e fiquei pensando nesta cena e em como poderia trazer para o meu diário de campo com uma visão globalizada, vista com outros olhos, mesmo sabendo que na hora fiquei de mau-humor com aquele cidadão e seu fiel “prazer instantâneo”. Como sabido, é definitivamente proibido fumar em lugares fechados, por isso os estabelecimentos projetaram as chamadas áreas de fumantes e não-fumantes. Com efeito, penso que de certa forma isso prejudica a consciência das pessoas, sendo que mesmo em áreas ao ar livre elas soltam a sua “fumacinha” da qual não sentem mais seus efeitos, literalmente, na cara das pessoas. E quando me refiro em consciência me vem muitos pensamentos, a consciência da qual me refiro é o que deveria fazer o ser humano, único, porém a capacidade de amabilidade e de se por no lugar do outro não é desenvolvida igualmente em todas as pessoas. O fumante não vai parar pra pensar em questões graves de saúde pública no momento em que está tragando o seu cigarro, pensar que fumantes passivos têm alto índice de desenvolver câncer de pulmão igual ou maior que um fumante ativo. Porém, penso que a consciência e o pensar no outro pudesse mudar alguns atos em nossa sociedade. Mas o que vemos é que algumas pessoas direcionam o bem estar para si e fazem de tudo para o seu prazer instantâneo, assim não se importando nem um pouco em “quem vai fumar junto” e as conseqüências que isto pode causar.


Proibido Fumar!

                Na minha observação anterior citei a consciência e falei que separar os fumantes dos não fumantes e proibir fumar em locais fechados não era o suficiente se nada partisse da consciência de uma pessoa em relação ao direito da outra. Não quero generalizar e dizer que isto não funciona, porém vale ressaltar que seria muito melhor se as regras e consciência andassem juntas. Hoje não presenciei nenhuma cena, porém lembrei-me de uma que já havia visto há algum tempo atrás. Refiro-me as placas de proibido fumar que são anexadas perto das escadas de todos os andares do prédio 11 inteiro. Na placa tem o símbolo de Proibido Fumar, aquele que todo mundo já conhece e abaixo está citada a LEI Nº 13.541 que adverte a proibição do fumo em locais fechados ou parcialmente fechados. No entanto, parece que isto não é respeitado e além de não ser respeitado, eu mesma já presenciei pessoas fumando no corredor e muitas das placas serem queimadas pelo próprio cigarro dos fumantes. O que me chama atenção é que neste prédio os respectivos senhores fumantes são dos cursos de direito e psicologia, os quais adotaram uma forma de expressão para isso não condizente com aquilo que estão aprendendo em seus cursos. Eu poderia escrever umas 30 linhas aqui só de julgamentos sobre essa ação não muito eficaz dessas pessoas. Porém, tenho curiosidade de saber o que será que passa no pensamento dessas pessoas? De que são baseados seus valores? Será que se sentem satisfeitos em fazerem isso? Será que suas crenças fazem com que se sintam ofendidos de não poderem fumar onde quiserem, ora bolas, afinal estão pagando tudo aquilo. E a consciência me vem mais uma vez em minha cabeça... Serão esses nossos futuros profissionais do Direito e psicólogos?
Cigarro Comunitário

                Nessas idas e vindas da faculdade observei como o modelo do cigarro comunitário é muito comum na entrada da faculdade. Observei uns três grupos de amigos/colegas durante uns 30 minutos antes de iniciar a aula do turno da noite, eu estava indo pra casa e fiquei conversando com algumas colegas sobre assuntos da faculdade, trabalhos, provas, etc. Enquanto conversava, podia observar esses grupos, eram jovens, homens, alguns estavam de terno, outros com mochila nas costas, eram grupos diferentes e estavam separados pelo pátio, no entanto estavam cometendo a mesma prática: um deles acendia o seu cigarro e os outros acabavam pedindo “um pega” e fumavam todos juntos. Daquela mesma maneira expandindo a fumaça para todos os lados em direção das outras pessoas. Fiquei pensando se os outros eram fumantes viciados ou só convencionais, pois observando de fora, apenas o que acendeu o cigarro parecia ser fumante. Em um dos grupos, o cigarro acabou tão rápido que o individuo acendeu outro. Esse grupo estabeleceu uma relação comum: fumar e conversar. Percebi que não era o único grupo ali que estava tendo esta mesma atitude, porém por outro motivo estavam separados. Nas aulas eu aprendi que comunidade é a forma de viver junto com intimidade e de forma privada e exclusiva. De certa forma isso ficou representado quando todos fumaram o mesmo cigarro. Esse Grupo estabeleceu relações de troca, embora não saudável, era necessária para eles naquele momento, de uma maneira mais íntima e marcada por esse contato grupal. E o pátio ao redor estava cheio de outros grupos que no meu esquema mental representou a sociedade que é uma grande união de grupos sociais marcada pelas mais diferentes relações de troca.


 Na companhia do Cigarro
               
                Estava mais uma vez na frente da faculdade esperando um amigo, quando observei um jovem de terno, provavelmente estudante de direito, pois estava em frente ao prédio 11 e falando no celular. Quando desligou o celular, imediatamente pôs a mão dentro do casaco e retirou um maço de cigarro e o acendeu, fumou o tempo todo sozinho. Quando ele estava falando ao celular dava a impressão de estar acompanhado e seguro, ao desligar o celular ficou olhando de um lado para outro e então puxou o cigarro do casaco... Ao olhar em outra direção vi outro jovem, desta vez vestido de calça e casaco, ele já estava fumando, também sozinho, meio apreensivo por esperar, olhava para as mãos, para o seu cigarro, para os lados... Naquele momento pensei que o cigarro era um companheiro, ambos pareceram ser inseguros, estavam em cantos opostos, sozinhos, ansiosos, talvez cansados, pois era fim do dia. Algumas pessoas assim como usam o álcool para socializarem-se com mais facilidades, pessoas que tem certa fobia, vergonha e insegurança utilizam deste mecanismo para conseguirem ter contato interpessoal sem sofrimento. Será que isto não ocorre com o cigarro também? Por questão de segurança, tempo que passa mais rápido, distração, etc. Ao chegar em casa fui pesquisar e achei um estudo que falava no índice de comorbidade entre tabagismo e fobia social, e o resultado da pesquisa foi de 7,3% para fobia social e tabagismo. Refleti que os transtornos de ansiedade, sejam quais forem tem grandes índices de tabagismo e a grosso modo nem precisamos por no papel, é só olharmos ao nosso redor.

FIM!



domingo, 1 de abril de 2012

[SÍSIFO]





Segunda-Feira: seis horas da manhã, o despertador toca e você acorda, levanta, toma banho, café, veste-se (não importa a ordem) pega suas coisas e segue para seu trabalho, trabalha pela manhã, sai para o almoço, retorna e trabalha a tarde, vai para a faculdade, estuda ou não, vai para casa, serve o jantar, escova os dentes e vai dormir. 

Terça-Feira: seis horas da manhã, o seu despertador novamente te acorda, você coloca na função soneca, alguns minutos depois você levanta, toma banho, café, se veste, pega suas coisas e segue para seu trabalho, trabalha pela manhã , sai para o almoço, retorna, vai para a faculdade, hoje é dia de academia, sai correndo da faculdade pra pegar a ultima hora da academia, malha correndo, às vezes até sem a roupa adequada pra sobrar tempo pra você chegar em casa e “tomarbanhocomerescovarosdentesdormir”.

 Quarta-Feira: despertador não tocou, saiu correndo, pegou aquela bolacha Maria dormida, trabalhou o dia inteiro, foi pra faculdade, matou academia porque estava morrendo de sono, chegou em casa, jantou, matou o banho e foi dormir.

Quinta-Feira: acorda na quinta chamada da função soneca, banho-café-trabalho, “almoça” ou seja, sua mão direita segura um sanduíche e a outra anota alguma coisa em uma folha enquanto você com a orelha segurando o telefone, supostamente acredita que está almoçando! Mais trabalho pela frente, faculdade -trabalho pra apresentar-, academia e casa, chega em casa, toma banho, come qualquer coisa que encontra na geladeira e vai dormir com uma feliz ilusão de que amanhã é sexta!

Sexta-Feira: dá um pulo na primeira chamada da função soneca, vai sorrindo para o trabalho, faz tudo muito rápido, a partir das 14hs da tarde já está sorrindo sozinho, a aula na faculdade passa que é uma beleza, sai direto pra um happy hour com os amigos e colegas, dali em diante acontece “ tudo” que você esperou eternamente a semana inteira.  Começa a beber tudo e mais um pouco, relaxa, fala, canta, tudo é muito e digo MUITO MAIS emocionante que todos os outros dias da semana, of course. Dá uma estendidinha quem sabe pra uma baladinha, já que as opções estão aí e assim segue com esse ritmo até de manhã.

Sábado: Acorda com aquela ressaca, levanta se arruma, liga pros amigos, sentiu uma dor de cabeça, mas não deu bola, aliás,  você não deu nem tempo nem da ressaca chegar porque você abriu uma nova lata de cerveja bem gelada (segundo seus amigos dizem acaba com qualquer ressaca). De sua casa você já sai para um “churras” e depois para noite, e da noite, bom...ainda não sabe mas ao acordar descobre o verdadeiro significado da palavra D-E-S-E-S-P-E-R-O! E o famoso “bolo doido” está feito e dou por alcançada com sucesso absoluto a “embreaguez da embreaguez”.

Domingo: Esse é especial, ele é o senhor, o pai, o chave...sem alongamentos. Enfim ele chegou e você acorda pega aquele paracetamol que já estava te esperando no bidê e tem um dia de camelo, porque você bebe a quantidade de água existente no rio Nilo!!! Sim, a ressaca foi forte, resultado do seu final de semana  “sem freio”. Você fica agonizando entre a geladeira para buscar água, o sofá para se atirar e a frente do computador para passar o ócio do famoso domingo de recuperação para que no próximo dia (segunda) você esteja inteiro para continuar a sua fadada rotina de sempre. Então chegou o fim, por volta das 18 horas desse infinito domingo que passou lentamente, QUANDO  o  Sol se esconder atrás do querido Guaíba, no lugar da ressaca coloca-se a suposta sensação de “meleca total”, ou o famoso “vazio existencial”, o tédio, o ócio....existem muitos nomes para isso, porque diabos tanta gente odeia domingo? Muitas tarefas numa semana, muitas coisas, muitas pessoas, pouco tempo, pouca solidez, pouco sentido,sentido?!

“ Sísifo no Hades foi condenado, tendo de rolar, por toda a eternidade, uma pedra até o cume de uma montanha, que rolava novamente sobre ele."


 Cuidado para não ser mais um Sísifo...