terça-feira, 24 de julho de 2012

Síndrome do Cavalo Branco

    Na década de 60 grande parte das mulheres desprenderam-se do modelo eterno que lhes era imposto de mães e donas de casa. O desapego da proteção do pai ou marido fez com que elas buscassem novas práticas de vida e saíssem de perto do pensamento que as prendiam: de serem frágeis e com uma enorme necessidade de proteção.
    Existem mulheres que se acham incapazes e continuam alimentando este pensamento de necessidade de proteção eterna, outras que se sentem capazes de mudar e não mudam temendo frustrar as expectativas do homem. Uma vez que, a combinação de sexualidade e competência nas mulheres pode vir a ameaçar a virilidade do homem, sendo assim, para não desapontarem “seus machões” elas escondem sua autonomia e representam o papel feminino estereotipado da frágil, doce, meiga e eterna cinderela a espera do salvamento. Assim, alimentam e acabam sendo um pouco responsáveis pelo ideal que os homens fantasiam que elas sejam na sociedade, sempre se ajustando conforme a necessidade deles. São em pensamentos cristalizados do tipo “Preciso ter um homem ao meu lado para me sentir protegida” onde vemos que apesar do século XXI ser o da revolução das mulheres e novas tendências que estão surgindo sutilmente em relação aos relacionamentos amorosos, ainda é muito grande as que ainda fazem esse tipo de reivindicação e continuam alimentando essa introjeção cultural por um modelo que foi aprendido a vida toda.
       Todos sabem e se não sabem é importante dar-se conta disso, de que o homem, viril e machão é estimulado a ser independente desde que nasce, a mulher não, ela é criada para defender-se e cuidar da própria vida. Na adolescência é marcante e visível quando a adolescente continua sendo treinada para ser dependente de alguém onde não deve sair sozinha, pois um irmão é solicitado a acompanhá-la, seus horários, assim como sua sexualidade, são mais controlados, e é cobrada a permanecer mais tempo em casa. Por mais que estude e faça planos profissionais para um futuro, ainda assim alimenta o sonho de um dia encontrar alguém que irá protegê-la e dar significado à sua vida, não dando ênfase a uma profissão que a torne de fato independente. Segundo a autora Bonnie Kreps a mulher acomodada aceita que todo homem com quem se relacione a proteja e que isso é possível observar nos rituais onde as própria mulheres permitem que os homens as conduzam em situações físicas que poderiam controlar sozinhas sem a ajuda masculina:
                                     
"Ainda assim, lá está ele, o braço masculino onipresente em nossa direção, dirigindo-nos nas esquinas, através das portas, para dentro dos elevadores, subindo escadas rolantes...atravessando ruas. Esse braço não é necessariamente pesado ou grosseiro; é leve e delicado, porém firme, como dos cavaleiros mais confiantes com os cavalos mais bem treinados".

  Enfim, quem sabe devêssemos prestar mais atenção no conceito de cavalheirismo e o que ele realmente representa. Eu realmente torço para que na pior das hipóteses mesmo que você sofra do mal da espera pelo príncipe encantado a salvá-la no cavalo branco, ao subir no cavalo e ao galopar você caia, bata a cabeça e acorde! Levante-se sozinha, não bancando a boneca frágil, sacuda a poeira e saia andando normalmente. Quer saber se eu sou feminista? E você, não é?       

quinta-feira, 5 de julho de 2012

13 Mentiras do Amor Romantico

Ainda existem pessoas que acreditam e sofrem com elas:

1. Só é possível a realização afetiva no casamento;
2. Não é possível amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo;
3. Quem ama não sente tesão por mais ninguém;
4. Para resolver a questão da falta de tesão no casamento basta ser criativo;
5. Homens e mulheres são por natureza emocionalmente diferentes;
6. Ninguém pode ser feliz sem um par amoroso;
7. Desejar relações amorosas e sexuais com parceiros variados significa imaturidade;
8. O amor materno é da natureza da mulher e toda mulher deseja ter um filho;
9. O pai não tem condições de criar um filho tão bem quanto a mãe;
10. A iniciativa da proposta sexual cabe naturalmente ao homem;
11. No sexo o homem é naturalmente ativo e a mulher passiva;
12. O homem gosta mais de sexo que a mulher;
13. No casamento é importante ceder sempre.




#RNL

terça-feira, 3 de julho de 2012

Eu OU Você.

    É mais do que comum o ser humano estar condicionado a dividir, racionalizar e separar para entender a realidade em que vive, acabando por dissociá-la e escolhendo entre um e outro, eu ou você, nós ou eles, etc. Em Psicologia Humanista, mais propriamente a Gestalt, fala-se de um todo muito maior que a soma das suas partes. 

   Temos coragem ou medo, pensamos com o cérebro ou o coração, somos certos ou errados, feios ou bonitos, jovens ou velhos. Porque? Será que podemos vir a questionar nossa realidade, e começar a pensar numa tendência de um todo que é muito mais do que a soma de uma divisão? Porque junto, ele é um organismo vivo e único. Esses questionamentos podem nos levar a uma nova compreensão de mundo, esse video nos mostra que há vida na morte, criança no velho, feio no bonito e por aí vai...A percepção do todo nos faz compreender que algo sempre tem haver com algo.

 

 "GESTOS IMPACTAM EM ATITUDES, QUE LEVAM A UMA AÇÃO, QUE FORMA UM PROCESSO E QUE CONSTRÓI OUTRO E QUE ALIMENTA OUTROS E TRANSFORMAM A REALIDADE."

 

     Seres humanos são "e' e não "ou". É dificil mudar esse pensamento  mas com esse vídeo maravilhoso, começo a pensar que deveriamos fazer o exercício de incluir TUDO, que por uma construção social que nos foi aprendida não nos questionamos e acabamos por excluir uma situação da outra.  Coisas opostas ou diferentes também são parte de nós, ou do que um dia fomos ou viremos a ser. 

 

Um mundo dividido é um mundo pobre. Uma pessoa, também. 

 

 Segue o vídeo que ilustra esse pensamento:  http://vimeo.com/22564317



segunda-feira, 2 de julho de 2012

A dificuldade de iniciar um relacionamento amoroso no Século XXI.


Desde 2009 venho estudando e pesquisando aleatóriamente sobre tipos de relacionamentos, construções socias e consequencias do mesmo diante do que se vê hoje na vida das pessoas.
É notável uma mudança que vem ocorrendo desde os anos 30 no campo amoroso das pessoas, hoje em dia, a chamada época Hipermoderna vem trazendo consigo uma série de características que causam certo “mal-estar” nos relacionamentos amorosos, se é que podemos chamar de “amorosos”. 
Parto do pressuposto psicanalítico, na melhor das hipóteses, que a grande maioria das pessoas tenha passado pela faze psicossexual e saído competente de seu narcisismo primário, que tenha estabelecido na relação com o outro, isto é na intersubjetividade, a relação de que pode investir em um objeto exogâmico, ou seja, não mais investir libido no seu próprio eu. Suponhamos que isto tenha ocorrido saudavelmente, mas que agora os tempos são outros, os tipos de relações intersubjetivas tenham mudado um pouco e que estamos na chamada Era de Narciso.  Essa cultura contemporânea, Cultura de Narciso, investe o tempo todo no seu próprio eu, isto é, são práticas que não sustentam a alteridade e onde predomina nada mais nada menos do que o fruto do capitalismo.  As dificuldades nos relacionamentos começam a aparecer então quando o culto ao corpo e a beleza, os bens que se tem e a busca incondicional pelo prazer predominam em cima de relações onde possa haver uma troca realmente com o outro, o sentimento/pensamento deveria importar muito mais que sensação/corporeidade.  Mas de fato, o amor nos tempos de Narciso isso não acontece, a realidade é outra é o tempo de “Você é o que consome”, o tempo do sexo seguro e quanto mais parceiros melhor, a era onde a regra é “tenho que gostar mais de mim do que do outro”, dessa forma não sofrerei tanto com o possível fim de um relacionamento.
Com essa lógica se torna cada vez mais difícil de manter um relacionamento amoroso com uma pessoa, e ai que se explica o “culto a solidão”, onde as pessoas podem até estar juntas, mas se sentem sozinhas o tempo todo em um mundo de pessoas voltadas para si mesmas, encantadas consigo mesmas, hipocondríacas, obcecadas por seus corpos e mergulhadas na fantasia do prazer constante, o amor é um sentimento fraco, de uma ligação frouxa com o outro. Assim, cada vez mais as pessoas se encasulam e preferem não investir em uma troca com o outro e sim investir somente em si próprias. Dessa forma como que se investe no outro que só investe em si próprio? As pessoas acabam com medo de sofrer ou quando encaram acabam cutucando a ferida narcísica e mostrando a carência, a falta de se sentir completo como se realmente gostaria. Quando amam, sofrem e quando não amam também sofrem, ou seja, se não se é amado não tem porque compartilhar. Acredito que com esses valores da nossa cultura atual, principalmente os valores amorosos fica cada vez mais difícil às pessoas se permitirem conhecer uma à outra, se interessar de verdade por universos pessoais distintos, dos quais possam emergir deixando lá algo de si, trazendo cá algo do outro -, fica uma questão e um desafio.

Goethe (2000, p.112) diz: "Ah, ninguém me poderá dar o amor, a alegria, o calor e o prazer, se tudo isso não estiver dentro de mim mesmo, e com um coração repleto de felicidade não poderei fazer feliz a outrem, se ele permanecer frio e sem forças diante de mim".

quinta-feira, 31 de maio de 2012

MEDO LÍQUIDO

Na atualidade existem medos sem nomes específicos que tomam conta dos indivíduos, este ultimo livro que li de Zygmunt Bauman fala de um sentimento que pode vazar de qualquer canto ou fresta de nossa vida, casa ou planeta. Mas como pode ser explicado esse medo que transborda inesperadamente e nos faz fugir do olhar dos seres humanos, assustados com o diferente? Por exemplo,  ainda que o outro seja uma criança de rua nos chamando de “tio” ou de “tia” do lado de fora do vidro do carro, ainda assim representa é um perigo. É comum nas grandes cidades vermos carros blindados, grades, portões e cadeados, nos aeroportos mundo a fora não é mais estranho olhares desconfiados de agentes de segurança alertados contra o terrorismo. Será que tem algo nesse medo que sentimos nos dias de hoje? Pelo que li no libro de Bauman existe sim.  Através da analise das ansiedades  atuais: morte, mal, situações inexplicáveis ele diz que esse sentimento pode surgir de qualquer “fresta” das nossas vidas.  Mais uma vez é um autor que leio e aborda sobre as relações da sociedade que “derrama, escorre” por nossa mente e corpo, desejos e tempos, não importando classe social, gênero  ou idade  onde nenhum de nós é poupado de assombrações  com ou sem lógica, individuais ou coletivas. Esse medo que surge de repente, em quartos, cozinhas, trabalho, metrô; Ou então ser acordado por um desastre natural ou simplesmente sofrer pelos atos das pessoas ao seu redor.  Bauman nomeia ainda uma “terceira zona”  onde entram as catástrofes econômicas e naturais, por exemplo: barris de petróleo que secam, bolsa de valores que despencam e empresas que afundam levando consigo centenas de empregos. Ele chama isso de universo de colapso. Para viver nesse universo em constante mudanças das quais acabam oferecendo muitos motivos para preocupações é necessário desenvolver estratégias para lidar com tudo isso!
“ Afinal, viver num mundo líquido-moderno conhecido por admitir apenas uma certeza- a de que amanhã não pode ser, não deve ser, não será como hoje- significa ensaiar diariamente um desaparecimento, sumiço, extinção e morte...” 
Bauman faz uma consideração curiosa, de que na sociedade atual até mesmo a morte pode ser temporária até segunda ordem. Pessoas escapam do sofrimento, ainda que a dor seja um processo de crescimento e amadurecimento, elas cessam dores o tempo inteiro. Essa “liquidez” do mundo moderno faz com que seja intolerável uma frustração causada pelo outro. As ameaças são assustadoras, ok. Porém, ele acredita que podemos buscar motivos racionais tanto para justificar a nossa falta de iniciativa durante os desafio diários, quanto para arriscar em si novas possibilidades criativas que não nos deixe fugir de tudo que nos encomoda. Enfim, Bauman acredita que devemos nos aproximar do que tememos e não fugir, de forma que se nos aproximamos do que nos causa medo, nos tranquilizamos de ver de perto a causa e conseguir lhe dar um nome e uma forma.
  “Medo é o nome que damos a nossa incerteza: nossa ignorância da ameaça e do que deve ser feito."
 Esta é apenas minha análise da minha leitura, vale a pena ler! 
(Zygmunt Bauman. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2008)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Teatro da Felicidade



    Hoje vivemos sombreados por uma Cultura Narcísica ou do Espetáculo, as pessoas não conseguem sustentar uma relação com o outro e a monogamia dá seus primeiros sinais de extinção. Pessoas voltadas para dentro de si, apenas para dentro de si.  Alguns autores que li falam em Época Hipermoderna ou Supermoderna, que é fruto do desenvolvimento do capitalismo multinacional e dos fenômenos da globalização. A principal característica dos tempos atuais não é a falta, é sim o excesso, que deforma o todo.  Na falta de experiências reais e consistentes, não superficiais como as que se vê por aí, as pessoas tem a si mesmo como objeto de amor e de sustentação da sua identidade. No estilo "Amar bastante a mim mesmo de modo a não precisar que ninguém me faça feliz”, vivemos em um mundo onde o encontro amoroso fracassa antes mesmo de acontecer porque as relações intersubjetivas estão em ruínas.
    Durante o cotidiano das pessoas, elas se juntam para trabalhar, para estudar, para ganhar dinheiro, para se divertir, para "ficar". Porém, nem sempre o estar junto fisicamente vai realizar um encontro. Quando pessoas em grupo, em um espaço público, um restaurante ou uma festa falam demais, gesticulam, ocupam todo o espaço possível com uma presença ruidosa. Se prestarmos atenção, veremos que a maioria não escuta umas às outras, exceto o mínimo necessário para abrir espaço para a sua própria fala. Falta interesse verdadeiro para o universo do outro. Falta disposição interna para escutar, refletir, construir junto um pensamento compartilhado, produto de um encontro. A vida é um cenário, onde é cada vez mais freqüente o comportamento teatral, mais precisamente, televisivo. 
As pessoas agem como se fossem personagens de uma história que está sendo filmada e deixam exibir, na tela, a satisfação por aparecerem na TV, mesmo que em situações constrangedoras ou dolorosas.
    As identidades se sustentam mais pelas imagens do que pela reflexão, mais pelo consumo que pelo cultivo. O outro faz papel de espectador ou quem sabe, coadjuvante, A linha do "você é o que você consome". O amor e o sexo não escaparam ao princípio consumista do mais querer, que produz o rápido esgotamento do que se tem. Acumulam-se casos e histórias como se acumulam coisas. E deles se descarta do mesmo jeito. Nessa lógica, é estimulado o exercício do sexo (seguro e em grande quantidade), com muita diversificação não só de parceiros, como de técnicas, acessórios e cenários. O encasulamento é um recurso de proteção contra o incômodo, a decepção, e o custo de uma relação, que requer o exercício da tolerância, da reflexão, do diálogo, da autocrítica.
    Por fim, se relacionar dá trabalho e o ganho pode parecer pouco – especialmente quando se vive em um mundo como o atual, que cobra a busca por um fictício estado prazeroso ininterrupto. O ganho, que não está previsto nessa conta que soma êxtases, é aquele que não se percebe de imediato. As pessoas passam a vida se fazendo e refazendo nas relações com o mundo. A falta de relações autênticas impossibilita experiências de vida que são imprescindíveis para a felicidade. Ou seja, não se basta sozinho, mesmo quando acreditar que é melhor não gostar de ninguém para evitar sofrimento. Assim, há quem prefira se defender do outro ao invés de arriscar, acaba ficando no vazio de si. Cabe a pessoa escolher com qual dos males pretende levar sua existência, contudo a cultura atual tem levado há uma única opções a milhares de adeptos...

                 


quarta-feira, 4 de abril de 2012

DIÁRIO DE CAMPO DE BRUNA CASSALES
TEMA: FUMO

                                       

A inspiração...

   Decidi iniciar meu diário de campo com um tema cuja incidência presencio diariamente em quase todos os lugares e com os mais diferentes tipos de pessoas. O meu tema é o fumo. Decidi pensar em porque, aqui na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do sul, excepcionalmente o prédio 11 dos cursos de Direito e Psicologia, tem um grande índice de fumantes a partir das 19 horas da noite em diante. Sou aluna da tarde e sempre observei que todos os dias enquanto vou saindo do meu turno de aula vem chegando, em paralelo, os alunos da noite. Fui pensando no motivo para as pessoas fumarem hoje em dia? Antigamente era bonito, chique e charmoso fumar, até mesmo os que não gostavam se rendiam somente para estarem equiparados aos mocinhos da novela, os quais fumavam durante as novelas. Mas hoje penso que o fumo é uma questão de prazer imediato de uma população ansiosa e estressada sem tempo para momentos de lazer ou realmente sem ter fontes de prazer e bem-estar alternativos nas suas vidas, porém ressalto que isso não é uma regra, uma vez que os fatores genéticos e ambientais também são variáveis a serem consideradas com base no que sempre aprendi que o ser humano é um ser biopsicossocial.


 Uma questão de cada um...

  É fato que o fumante leva um tempo para se acostumar com os efeitos da nicotina, no início com aqueles enjôos iniciais, aí vêm as tonturas e aquela garganta seca. O mesmo acontece com o cheiro da fumaça do cigarro! Depois de drogadicto, o fumante já tem dificuldade de sentir tudo isso e, não o estranhando mais, se identifica com ele (o cigarro) e não o abandona mais. Porém, isso não deveria acontecer com as pessoas que rodeiam os fumantes, os chamados fumantes passivos. Não vou me enganar só por isso porque na verdade a fumaça do cigarro fede. Que o dependente em nicotina não ache isto tudo bem, mas que fede, fede... Certo dia eu e mais uma colega estávamos em frente ao Prédio 11, naquele mesmo horário o qual citei acima (por volta das 19h), de repente um cidadão se sentou ao nosso lado, acendeu o seu cigarro, tragou IN-FI-NI-TA-MEN-TE e simplesmente sem olhar se haviam pessoas ao seu lado soltou uma enorme e fedorenta fumaça de cigarro no nosso rosto. No momento fiquei indignada e tomada pela minha dose de raiva e meu alter-ego foi tomado pelo senso-comum e pensei na mesma hora – Mas o que ele está pensando? Que pessoa sem educação! No entanto, passou-se um tempo e fiquei pensando nesta cena e em como poderia trazer para o meu diário de campo com uma visão globalizada, vista com outros olhos, mesmo sabendo que na hora fiquei de mau-humor com aquele cidadão e seu fiel “prazer instantâneo”. Como sabido, é definitivamente proibido fumar em lugares fechados, por isso os estabelecimentos projetaram as chamadas áreas de fumantes e não-fumantes. Com efeito, penso que de certa forma isso prejudica a consciência das pessoas, sendo que mesmo em áreas ao ar livre elas soltam a sua “fumacinha” da qual não sentem mais seus efeitos, literalmente, na cara das pessoas. E quando me refiro em consciência me vem muitos pensamentos, a consciência da qual me refiro é o que deveria fazer o ser humano, único, porém a capacidade de amabilidade e de se por no lugar do outro não é desenvolvida igualmente em todas as pessoas. O fumante não vai parar pra pensar em questões graves de saúde pública no momento em que está tragando o seu cigarro, pensar que fumantes passivos têm alto índice de desenvolver câncer de pulmão igual ou maior que um fumante ativo. Porém, penso que a consciência e o pensar no outro pudesse mudar alguns atos em nossa sociedade. Mas o que vemos é que algumas pessoas direcionam o bem estar para si e fazem de tudo para o seu prazer instantâneo, assim não se importando nem um pouco em “quem vai fumar junto” e as conseqüências que isto pode causar.


Proibido Fumar!

                Na minha observação anterior citei a consciência e falei que separar os fumantes dos não fumantes e proibir fumar em locais fechados não era o suficiente se nada partisse da consciência de uma pessoa em relação ao direito da outra. Não quero generalizar e dizer que isto não funciona, porém vale ressaltar que seria muito melhor se as regras e consciência andassem juntas. Hoje não presenciei nenhuma cena, porém lembrei-me de uma que já havia visto há algum tempo atrás. Refiro-me as placas de proibido fumar que são anexadas perto das escadas de todos os andares do prédio 11 inteiro. Na placa tem o símbolo de Proibido Fumar, aquele que todo mundo já conhece e abaixo está citada a LEI Nº 13.541 que adverte a proibição do fumo em locais fechados ou parcialmente fechados. No entanto, parece que isto não é respeitado e além de não ser respeitado, eu mesma já presenciei pessoas fumando no corredor e muitas das placas serem queimadas pelo próprio cigarro dos fumantes. O que me chama atenção é que neste prédio os respectivos senhores fumantes são dos cursos de direito e psicologia, os quais adotaram uma forma de expressão para isso não condizente com aquilo que estão aprendendo em seus cursos. Eu poderia escrever umas 30 linhas aqui só de julgamentos sobre essa ação não muito eficaz dessas pessoas. Porém, tenho curiosidade de saber o que será que passa no pensamento dessas pessoas? De que são baseados seus valores? Será que se sentem satisfeitos em fazerem isso? Será que suas crenças fazem com que se sintam ofendidos de não poderem fumar onde quiserem, ora bolas, afinal estão pagando tudo aquilo. E a consciência me vem mais uma vez em minha cabeça... Serão esses nossos futuros profissionais do Direito e psicólogos?
Cigarro Comunitário

                Nessas idas e vindas da faculdade observei como o modelo do cigarro comunitário é muito comum na entrada da faculdade. Observei uns três grupos de amigos/colegas durante uns 30 minutos antes de iniciar a aula do turno da noite, eu estava indo pra casa e fiquei conversando com algumas colegas sobre assuntos da faculdade, trabalhos, provas, etc. Enquanto conversava, podia observar esses grupos, eram jovens, homens, alguns estavam de terno, outros com mochila nas costas, eram grupos diferentes e estavam separados pelo pátio, no entanto estavam cometendo a mesma prática: um deles acendia o seu cigarro e os outros acabavam pedindo “um pega” e fumavam todos juntos. Daquela mesma maneira expandindo a fumaça para todos os lados em direção das outras pessoas. Fiquei pensando se os outros eram fumantes viciados ou só convencionais, pois observando de fora, apenas o que acendeu o cigarro parecia ser fumante. Em um dos grupos, o cigarro acabou tão rápido que o individuo acendeu outro. Esse grupo estabeleceu uma relação comum: fumar e conversar. Percebi que não era o único grupo ali que estava tendo esta mesma atitude, porém por outro motivo estavam separados. Nas aulas eu aprendi que comunidade é a forma de viver junto com intimidade e de forma privada e exclusiva. De certa forma isso ficou representado quando todos fumaram o mesmo cigarro. Esse Grupo estabeleceu relações de troca, embora não saudável, era necessária para eles naquele momento, de uma maneira mais íntima e marcada por esse contato grupal. E o pátio ao redor estava cheio de outros grupos que no meu esquema mental representou a sociedade que é uma grande união de grupos sociais marcada pelas mais diferentes relações de troca.


 Na companhia do Cigarro
               
                Estava mais uma vez na frente da faculdade esperando um amigo, quando observei um jovem de terno, provavelmente estudante de direito, pois estava em frente ao prédio 11 e falando no celular. Quando desligou o celular, imediatamente pôs a mão dentro do casaco e retirou um maço de cigarro e o acendeu, fumou o tempo todo sozinho. Quando ele estava falando ao celular dava a impressão de estar acompanhado e seguro, ao desligar o celular ficou olhando de um lado para outro e então puxou o cigarro do casaco... Ao olhar em outra direção vi outro jovem, desta vez vestido de calça e casaco, ele já estava fumando, também sozinho, meio apreensivo por esperar, olhava para as mãos, para o seu cigarro, para os lados... Naquele momento pensei que o cigarro era um companheiro, ambos pareceram ser inseguros, estavam em cantos opostos, sozinhos, ansiosos, talvez cansados, pois era fim do dia. Algumas pessoas assim como usam o álcool para socializarem-se com mais facilidades, pessoas que tem certa fobia, vergonha e insegurança utilizam deste mecanismo para conseguirem ter contato interpessoal sem sofrimento. Será que isto não ocorre com o cigarro também? Por questão de segurança, tempo que passa mais rápido, distração, etc. Ao chegar em casa fui pesquisar e achei um estudo que falava no índice de comorbidade entre tabagismo e fobia social, e o resultado da pesquisa foi de 7,3% para fobia social e tabagismo. Refleti que os transtornos de ansiedade, sejam quais forem tem grandes índices de tabagismo e a grosso modo nem precisamos por no papel, é só olharmos ao nosso redor.

FIM!