segunda-feira, 2 de julho de 2012

A dificuldade de iniciar um relacionamento amoroso no Século XXI.


Desde 2009 venho estudando e pesquisando aleatóriamente sobre tipos de relacionamentos, construções socias e consequencias do mesmo diante do que se vê hoje na vida das pessoas.
É notável uma mudança que vem ocorrendo desde os anos 30 no campo amoroso das pessoas, hoje em dia, a chamada época Hipermoderna vem trazendo consigo uma série de características que causam certo “mal-estar” nos relacionamentos amorosos, se é que podemos chamar de “amorosos”. 
Parto do pressuposto psicanalítico, na melhor das hipóteses, que a grande maioria das pessoas tenha passado pela faze psicossexual e saído competente de seu narcisismo primário, que tenha estabelecido na relação com o outro, isto é na intersubjetividade, a relação de que pode investir em um objeto exogâmico, ou seja, não mais investir libido no seu próprio eu. Suponhamos que isto tenha ocorrido saudavelmente, mas que agora os tempos são outros, os tipos de relações intersubjetivas tenham mudado um pouco e que estamos na chamada Era de Narciso.  Essa cultura contemporânea, Cultura de Narciso, investe o tempo todo no seu próprio eu, isto é, são práticas que não sustentam a alteridade e onde predomina nada mais nada menos do que o fruto do capitalismo.  As dificuldades nos relacionamentos começam a aparecer então quando o culto ao corpo e a beleza, os bens que se tem e a busca incondicional pelo prazer predominam em cima de relações onde possa haver uma troca realmente com o outro, o sentimento/pensamento deveria importar muito mais que sensação/corporeidade.  Mas de fato, o amor nos tempos de Narciso isso não acontece, a realidade é outra é o tempo de “Você é o que consome”, o tempo do sexo seguro e quanto mais parceiros melhor, a era onde a regra é “tenho que gostar mais de mim do que do outro”, dessa forma não sofrerei tanto com o possível fim de um relacionamento.
Com essa lógica se torna cada vez mais difícil de manter um relacionamento amoroso com uma pessoa, e ai que se explica o “culto a solidão”, onde as pessoas podem até estar juntas, mas se sentem sozinhas o tempo todo em um mundo de pessoas voltadas para si mesmas, encantadas consigo mesmas, hipocondríacas, obcecadas por seus corpos e mergulhadas na fantasia do prazer constante, o amor é um sentimento fraco, de uma ligação frouxa com o outro. Assim, cada vez mais as pessoas se encasulam e preferem não investir em uma troca com o outro e sim investir somente em si próprias. Dessa forma como que se investe no outro que só investe em si próprio? As pessoas acabam com medo de sofrer ou quando encaram acabam cutucando a ferida narcísica e mostrando a carência, a falta de se sentir completo como se realmente gostaria. Quando amam, sofrem e quando não amam também sofrem, ou seja, se não se é amado não tem porque compartilhar. Acredito que com esses valores da nossa cultura atual, principalmente os valores amorosos fica cada vez mais difícil às pessoas se permitirem conhecer uma à outra, se interessar de verdade por universos pessoais distintos, dos quais possam emergir deixando lá algo de si, trazendo cá algo do outro -, fica uma questão e um desafio.

Goethe (2000, p.112) diz: "Ah, ninguém me poderá dar o amor, a alegria, o calor e o prazer, se tudo isso não estiver dentro de mim mesmo, e com um coração repleto de felicidade não poderei fazer feliz a outrem, se ele permanecer frio e sem forças diante de mim".

Um comentário:

  1. Eu vejo também que muitos relacionamentos já começam como uma espécie de "tapa buraco" do anterior. As pessoas não conseguem viver sozinhas, portanto se juntam a uma outra qualquer pra ter uma certa companhia. O relacionamento já nasce fadado ao fracasso.
    Enfim, belo texto.

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