Desde 2009 venho estudando e pesquisando aleatóriamente sobre tipos de relacionamentos, construções socias e consequencias do mesmo diante do que se vê hoje na vida das pessoas.
É notável uma mudança que vem ocorrendo desde os anos 30 no campo amoroso das
pessoas, hoje em dia, a chamada época Hipermoderna vem trazendo consigo uma
série de características que causam certo “mal-estar” nos relacionamentos
amorosos, se é que podemos chamar de “amorosos”.
Parto do
pressuposto psicanalítico, na melhor das hipóteses, que a grande maioria das pessoas tenha
passado pela faze psicossexual e saído competente de seu narcisismo primário,
que tenha estabelecido na relação com o outro, isto é na intersubjetividade, a
relação de que pode investir em um objeto exogâmico, ou seja, não mais investir
libido no seu próprio eu. Suponhamos que isto tenha ocorrido saudavelmente, mas
que agora os tempos são outros, os tipos de relações intersubjetivas tenham
mudado um pouco e que estamos na chamada Era de Narciso. Essa cultura contemporânea, Cultura de
Narciso, investe o tempo todo no seu próprio eu, isto é, são práticas que não
sustentam a alteridade e onde predomina nada mais nada menos do que o fruto do
capitalismo. As dificuldades nos
relacionamentos começam a aparecer então quando o culto ao corpo e a beleza, os
bens que se tem e a busca incondicional pelo prazer predominam em cima de
relações onde possa haver uma troca realmente com o outro, o sentimento/pensamento deveria importar muito mais que
sensação/corporeidade. Mas de fato, o
amor nos tempos de Narciso isso não acontece, a realidade é outra é o tempo de
“Você é o que consome”, o tempo do sexo seguro e quanto mais parceiros melhor,
a era onde a regra é “tenho que gostar mais de mim do que do outro”, dessa
forma não sofrerei tanto com o possível fim de um relacionamento.
Com essa
lógica se torna cada vez mais difícil de manter um relacionamento amoroso com
uma pessoa, e ai que se explica o “culto a solidão”, onde as pessoas podem até
estar juntas, mas se sentem sozinhas o tempo todo em um mundo de pessoas voltadas para si mesmas, encantadas consigo
mesmas, hipocondríacas, obcecadas por seus corpos e mergulhadas na fantasia do
prazer constante, o amor é um sentimento fraco, de uma ligação frouxa com o
outro. Assim, cada vez mais as pessoas se encasulam e preferem não investir em
uma troca com o outro e sim investir somente em si próprias. Dessa forma como
que se investe no outro que só investe em si próprio? As pessoas acabam com
medo de sofrer ou quando encaram acabam cutucando a ferida narcísica e
mostrando a carência, a falta de se sentir completo como se realmente gostaria.
Quando amam, sofrem e quando não amam também sofrem, ou seja, se não se é amado
não tem porque compartilhar. Acredito que com esses valores da nossa cultura
atual, principalmente os valores amorosos fica cada vez mais difícil às pessoas
se permitirem conhecer uma à outra, se interessar de verdade por universos
pessoais distintos, dos quais possam emergir deixando lá algo de si, trazendo
cá algo do outro -, fica uma questão e um desafio.
Eu vejo também que muitos relacionamentos já começam como uma espécie de "tapa buraco" do anterior. As pessoas não conseguem viver sozinhas, portanto se juntam a uma outra qualquer pra ter uma certa companhia. O relacionamento já nasce fadado ao fracasso.
ResponderExcluirEnfim, belo texto.